Repetitivo irá decidir alcance da exceção da impenhorabilidade de salário, ainda que inferior a 50 salários, sobre dívida não alimentar.

LinkedIn
WhatsApp
Facebook
Twitter

A Comissão Gestora de Precedentes do Superior Tribunal de Justiça (STJ) constatou que existem aproximadamente 5 acórdãos e 313 decisões monocráticas que tratam sobre o tema do afastamento da impenhorabilidade salarial, portanto, todos os julgamentos pendentes sobre o mesmo tema foram suspensos e serão decididos pelo STJ no Tema 1.230.

Mas o que será analisado no julgamento?

O Código de Processo Civil (CPC) ao dispor sobre a execução por quantia certa mencionou em seu artigo 833 os bens impenhoráveis. Dentre os bens elencados estão: a) salário, aposentadoria, pensão, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal; b) a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos.

Contudo, no §2º o CPC trouxe duas exceções à impenhorabilidade: 1) quando se tratar de prestação alimentícia; 2) independente da origem da dívida, se o valor ultrapassar 50 salários-mínimos mensais.

Ocorre que, recentemente, julgados do STJ autorizaram a penhora de valores inferiores à 50 salários-mínimos em débitos não alimentares. Veja a pílula que escrevemos em maio de 2023 sobre um julgamento neste sentido: https://aronecoutinhoadv.com.br/2023/05/19/possibilidade-de-penhora-do-salario-para-pagamento-de-divida/

Desta forma, o STJ tem entendido que o artigo que trata da impenhorabilidade foi pensado com base na teoria do mínimo existencial. Portanto, admite-se a penhora da parte que excede esse mínimo, desde que seja suficiente para sustentar o devedor e sua família. Assim, com o objetivo de evitar decisões conflitantes, o Repetitivo irá estabelecer exatamente o alcance da exceção prevista no §2º do art. 833 do CPC, relacionada à regra da impenhorabilidade dos ganhos salariais, mesmo quando a renda do devedor for inferior a cinquenta (50) salários-mínimos, para quitar dívidas que não envolvam discussão sobre alimentos.

A definição do alcance da norma é necessária para que haja segurança jurídica e todas as decisões judiciais sejam consistentes e previsíveis. Além disso, o valor de 50 salários se mostra excedente se comparado a realidade da maioria dos brasileiros e, dessa forma, tal regra se torna excessivamente onerosa ao credor. Se o alcance da exceção for ampliado resultará na maior efetividade na recuperação de créditos, especialmente em ações judiciais em que todas as tentativas de penhoras já foram esgotadas. Estamos acompanhando e aguardando o julgamento do Tema 1.230.

VOCÊ TAMBÉM PODE SE INTERESSAR POR ESSAS PUBLICAÇÕES

Precedentes trabalhistas: o que sua empresa precisa saber para evitar riscos

Precedentes judiciais no Processo do Trabalho são decisões que orientam casos futuros semelhantes, promovendo uniformidade e segurança jurídica. Com o novo CPC de 2015, eles ganharam ainda mais relevância, influenciando juízes e advogados. Instrumentos como súmulas, IRDRs e recursos repetitivos consolidam esses entendimentos, já fixando mais de 200 teses no TST. Entender conceitos como diferenciação e superação é crucial para aplicar corretamente os precedentes e prevenir riscos trabalhistas.

Leia mais

O STJ e a Alienação Fiduciária: Um Alerta para o Registro Tardio

O STJ decidiu que o registro tardio da alienação fiduciária inviabiliza a execução extrajudicial. No caso julgado, o contrato foi registrado dois anos após a assinatura, apenas após notificação de rescisão, configurando abuso de direito e violação à boa-fé. A decisão reforça a importância do registro tempestivo como condição de validade e destaca os riscos de condutas que surpreendam a parte contratante.

Leia mais

Reforma Tributária e o Agronegócio: Uma Análise Estratégica dos Impactos na Cadeia Produtiva

A Reforma Tributária sobre o Consumo inaugura uma nova lógica para o sistema de tributos no Brasil, impactando diretamente o agronegócio. Com a introdução do IVA-Dual (IBS e CBS) e uma alíquota de referência de 26,5%, o setor será desafiado a repensar sua operação em toda a cadeia — da produção ao consumidor final.

Embora o novo modelo traga mecanismos de mitigação, como a cesta básica com alíquota zero e reduções de até 60% para insumos e alimentos in natura, o cenário exige atenção redobrada de produtores e cooperativas. O tratamento diferenciado a pequenos produtores e o crédito presumido visam neutralizar a tributação nos elos seguintes, enquanto a preservação da não incidência nos atos cooperativos mantém a força do modelo colaborativo.

Questões específicas como a tributação de operações de barter ainda geram incertezas e poderão ser judicializadas. Em um ambiente de mudanças profundas, compreender os dispositivos da reforma e adaptar-se com estratégia será essencial para garantir competitividade e sustentabilidade no setor.

Leia mais